Roteiro. 2° parte

[continuação]

Narração: Tudo se calou. Em instantes o garoto prosseguiu.

M: - Moço, sabe o que eu vejo daqui?! Luzes verdes em todas as árvores da praça.

H: - Mas tá tudo seco, garoto. É outono.

M: - Outono? Nome engraçado. Quem é outono?

H: - Não importa. O que mais você ver?

M: - O homem do carrinho de pipoca e balões indo embora...Sabe?! Eu gosto de pipoca, o cheiro tem sabor de fruta rancada do pé...

Narração: Naquele momento me tranferi para o mundo daquele garoto, eu não entendia bem, mas ele continuava a falar de pipoca, dos balões, de cores inimagináveis, de cataventos coloridos, do carrossel, dos perfumes, do gosto de chuva, das brincadeiras de pique, da coruja escondida e dos vagalumes na praça... Em algum momento entre brincadeira de pique e vagalumes na praça, perguntei:

H: - Qual se nome?

M: - Luis. H: - Melhor, pensei que fosse Aderaldo.

M: - Aderaldo?! Depois eu que sou o esquisito.

H: - Tava "zuando".

M: - Você não é engraçado.

H: - Tá com frio, Luis?

M: - Tô sim.

H: - Tome aqui. [era o casaco preferido do meu filho]

M: - Humm! Tem cheiro bom.

H: - Naftalina?

M: - É bom sim, me dá um sabor de sorvete de côco na boca.

Narração: Ria a cada sandice, ele era realmente esquisito, porém bem sinestésico. Até dividimos um sanduíche. Quando percebi perdia minha hora. Contudo, ele continuou.

M: - Eu penso muito, sabia? Entre um carro e outro.

H: - Isso é bom. E o que você pensa?

M: - Penso que agora somos assim, você sem seu filho e eu sem meu pai, embora falta ele não faz. Falta vai fazer, quando for minha mãe.

H: Sei bem.

M: Sabe mais...Eu o vi, hoje, várias vezes passando pelo mesmo sinal, ofereci bala todas às vezes, mas não importei, você tinha cheiro de saudade doída...

Narração: O abracei. Realmente a praça estava verde. E só assim entendi o que havia entre os vagalumes e a coruja escondida.